(…) Não escreve sobre Camilo quem quer, apenas quem pode. (…) Baloiçando numa corda biográfica vibrante, tangida pelos dedos da fortuna genial que emoldurou o torturado de Seide, aparece-nos agora, desenhado pela pena de César Silva, um Camilo estremecido, intempestivo, sempre fulgurante na arte de escrever e de viver. Talvez "a maior personagem da literatura portuguesa», como César refere, ou o «símbolo sintético da nossa vida livre", como escreveu Fialho de Almeida, ou ainda "o maior de todos", como me confidenciou um dia Agustina, essa deusa das letras, das poucas que o futuro tornará sempre presente. (…) Mais do que uma simples biografia, esta obra é um complexo passeio pelas ruelas de uma vida carregada de contradições e de glórias, esmagada pelo peso de incompreensões e infortúnios, manchada de sombras que nem a morte ousou clarear. (…) A obra de César Silva mostra-nos um Camilo fracturante, incómodo, assustador para muita gente, desde letrados e académicos a banqueiros, de afortunados pela força do dinheiro a políticos, de corruptos que se serviam do Estado sem o servir a prelados que se serviram da estola sem servir a Deus.
in "Prefácio"
Carlos Mota Cardoso