(...) angola desencontrou-me. deixei de me procurar mas nem por isso me encontrava. navegando a poeira através do cazenga, junto ao mercado asa branca, sentia-me vivo. mas vivo de uma vida que não vai a lado algum, que se desistiu. sentia-me vivo nas dores daquelas gentes, carregadas com raivosa dignidade. em carne viva, escancarado, envergonhado da ausência de faltas, conduzia furiosamente por entre o caos e as lixeiras a céu aberto. amava luanda tanto quanto a odiava, honrando assim os seus contrastes e a convivência impossível dos excessos com a mais absoluta miséria. zangava- me com deus. e chorava de raiva e impotência. tragado pelo bulício, por vezes, quase me via, perdido entre os vultos adiados. e assaltava-me paris e os lilases e montmartre numa tela inacabada, sem brilho. assaltava-me paris e o verde dos teus olhos. e atacama. tão longe. um puto de vinte e nove anos em busca de rosas num deserto onde só há cactos.
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